sábado, 29 de setembro de 2007

Como você se vê?


Eu posso ser assim,

assim,

ou assim, desde que eu reconheça em mim a primeira pessoa a quem devo amar, pois, como disse Machado de Assis: Cada qual sabe amar a seu modo, o modo pouco importa, o essencial é que saiba amar.

Outro dia a sorte do orkut dizia que o amor-próprio era nosso primeiro e último amor. Concordo. Por mais que acreditemos que alguém nos ama, de nada vale esse amor se nós mesmos não nos amarmos. É preciso coragem para se assumir com todos os defeitos e qualidades inerentes ao ser humano, mas se essa assunção não acontece, todo o resto fica danificado, porque todas as atitudes visarão à eliminação dos defeitos e a valorização das qualidades. Mas o que são defeitos e o que são qualidades? Por que nos é tão fácil fazer uma lista de defeitos e se alguém nos pergunta a respeito das qualidades apelamos sempre para aquelas básicas pelo simples fato de que não conseguimos verbalizar o que temos de bom? Por que sempre relacionamos nossos defeitos a características físicas e nossas qualidades a características intelctuais? Os filmes e revistas sempre mostram mulheres que ou são belas, ou são inteligentes. É sempre o ou, nunca o e. Pesquisas já relacionaram fracassos amorosos a sucesso profissional e/ou intelectual, como se uma maldição rondasse aqueles que são bem-sucedidos. Ontem mesmo, assisti a um filme belíssimo, O espelho tem duas faces, onde dois professores universitários vivem um estranho conto de fadas. Enquanto a mulher buscava o romance, o homem fugia do sexo. E romance sem sexo, depois de um tempo deixa de ser romance. Ele fugia, porque acreditava que o fracasso de seus relacionamentos se devia à má influência do sexo, mas, na verdade, o insucesso se dava porque ele não sabia escolher as pessoas com quem se relacionava. Ela, ao invés, não encontrava o amor, o romance, porque não tinha confiança em si mesma, achava-se feia e desse modo os outros a viam, pois era assim que ela se mostrava. A beleza em si, pouco importa, mas o modo como nos mostramos ao mundo, como permitimos que nossos amigos e candidatos a amor nos vejam, essa visão é decisiva, é a diferença entre ter amigos e ter amores. O ideal é ter os dois, pois a amizade é um dos melhores tipo de amor que temos na vida, na verdade, sabendo escolher o amigo e manter vivo o relacionamento, a amizade é mais duradoura do que o amor romântico, mas ela não o substitui. Há coisas que um amigo não pode fazer, por melhor que ele seja.

Enquanto Alex, a professora, anulou seus desejos em prol dos desejos de Greg, o professor, a única coisa que ela encontrou foi a frustração: não dá para ser feliz com alguém, sem ser absolutamente honesto consigo mesmo! Não importa o quanto você seja honesto com o outro, é com a sua consciência e com os seus desejos que você realmente dorme. Sem honestidade, o outro a seu lado é apenas um enfeite sem utilidade que, no máximo, dará uma satisfação à sociedade. Alex viveu uma mentira por meses, ela sabia que ele não a conhecia de verdade, ela sabia que ele não vira o fim da aula e, portanto, perdera o momento em que ela realmente assumira perante os alunos, que viver um amor, com tudo o que isso significa, é 'fucking great!'. Mas, apesar de ter consciência da mentira, ela aceitou e se escondeu ainda mais dentro de si mesma, recebendo muito menos do que desejava e merecia.

A questão que eu levanto é: dá para amar num mundo como o nosso? Um mundo onde a verdade tem cada vez menos espaço, onde a futilidade impera, onde é crime de lesa majestade ter celulite? Dá, sim, desde que você não se deixe vitimar, desde que você se assuma como é, com celulites e tudo, e não aceite nada menos do que você merece. Desse modo é muito possível ser feliz. E ser feliz é realmente 'fucking great'!!!