domingo, 28 de outubro de 2007

SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ!!! (TOM JOBIM)


É só eu sei quanto amor
Eu guardei sem saber
Que era só com você
É só tinha de ser com você
Havia de ser pra você
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor
Aquele que a gente não vê
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu..
É você que é feito de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonito demais
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim
É você que é feito de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonito demais
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

sábado, 27 de outubro de 2007

NAMORADO


Ter ou não ter namorado, eis a questão


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos.
Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio. Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.


Esse texto já foi atribuído a Drummond(até mesmo num livro didático de Língua Portuguesa, o texto é atribuído ao poeta, o que me fez atribuí-lo a Drummond outro dia), mas, na verdade é de Artur da Távola, foi publicado em 'Amor a sim mesmo', e parece que é de 1984.

domingo, 7 de outubro de 2007





Ah, coração leviano, não sabe o que fez do meu!

Ah, coração, teu engano foi esperar por um bem de um coração que nunca será de ninguém!!

(versos da canção 'coração leviano', cantada por Clara Nunes e Paulinho da Viola)

sábado, 6 de outubro de 2007

Brigando com galos

Brigas de galos e de homens...

Apesar da minha rotina dever, obrigatoriamente, ser dividida em horas de estudo para que eu tenha sucesso nos meus objetivos, tenho encontrado tempo para ler o blog de um colunista d' O globo ( http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson ). É uma leitura descontraída que me ajuda a dissipar um pouco o cansaço provocado pelo excesso de semântica e sintaxe gerativa. Outro dia, no entanto, surgiu um tópico que me fez pensar muito durante a semana acerca da maldade intrínseca ao Homem. Obviamente, não era uma maldade no colunista, que pelo que depreendi até agora, é um homem muito doce, mas no texto que lhe fora enviado e que ele publicou quase como um direito de resposta, pois se referia a uma postagem anterior, publicado em julho. O texto enviado agora, meses depois da discussão a que aludia, defendia a rinha de galos como uma prática cultural do povo brasileiro e que, portanto, deveria ser preservada. A mensagem anterior, pelo que deduzi, apesar de não tê-la lido, pronunciava-se contra tal maldade.Freud dizia que vivemos em busca do princípio do prazer, ou seja, na minha compreensão, inocente ou superficial que seja, vivemos para buscar o prazer, não necessariamente, ou exclusivamente, o sexual, mas de todo prazer que podemos conseguir, como a lembrança da satisfação ao mamar o leite materno. Uma amiga me disse que uma das maiores emoções da sua vida foi ver seu filhinho buscando o seio, como um animalzinho faminto, e mamando até dormir satisfeito. É isso que buscamos, acredito. O prazer que sentimos ao comer algo gostoso. Lembro do suspiro de prazer que dei uma vez, quando saí com um amigo, ao morder o primeiro pedaço de um pastelão de alho poró delicioso, na Livraria da Travessa ou a Letras e expressões (era uma dessas duas, na rua Visconde de Pirajá), em Ipanema. Do arrepio delicioso ao ganhar um beijo na nuca de um namorado por quem eu era muito apaixonada. Da sensação de superação ao assinar a ata da defesa do meu mestrado. Da alegria de pegar o Vittorio pela primeira vez no colo, quando ele era do tamanho de um ratinho. Se nos guiamos pela busca desses pequenos prazeres, como alguém pode se divertir com o sofrimento de dois animais? Como isso pode ser chamado de esporte, tradição cultural, lazer?

Michaelis define esporte como "s. m. Conjunto de exercícios físicos praticados metodicamente, em equipes ou individualmente;(...)";

Tradição como "s. f. 1. Ato de transmitir ou entregar. 2. Transmissão oral de lendas, fatos, doutrinas, costumes, hábitos etc., durante um longo espaço de tempo. 3. Tudo o que se sabe por uma transmissão de geração em geração.(...)";

Cultura (pois cultural é apenas relativo à cultura) como "5. Aplicação do espírito a uma coisa; estudo. 6. Adiantamento, civilização. 7. Apuro, esmero, elegância."e Lazer " s. m. Tempo livre, vagar, ócio.".

Nada disso se refere à violência. Entendo, embora não aceite, que no passado, a violência fosse encarada como uma forma de diversão. Mas, hoje em dia, o que a justifica? Não nos orgulhamos de haver evoluído?Vários homens considerados sábios hoje, foram contra a violência contra os animais:

Leonardo da Vinci: "Tempo virá em que os homens verão o assassinato de animais como eles vêem, hoje, o assassinato de homens"

Abraham Lincoln: "Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais."

Albert Einstein: "Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as hipóteses de sobrevivência da vida na Terra quanto a evolução para uma dieta vegetariana. A ordem de vida vegetariana, pelos seus efeitos físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal maneira que melhorará em muito o destino da humanidade."

Albert Schweitzer: "O erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deve aplicá-la em relação ao Homem." "Quando o Homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará de ensiná-lo a amar os seus semelhantes."

Alice Walker: "Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens."

Todas essas pessoas estão erradas e apenas aquele senhorzinho e seus asseclas certos? Não acredito! O que a violência mostra é que não evoluímos quase nada do século XX para cá, a despeito do enorme salto das Ciências. Algumas pessoas dão, em geral, pouca atenção à violência cometida contra animais. Não estou dizendo que não se choquem diante do que acontece, mas não consideram crimes contra animais como algo tão importante quanto um crime acontecido a um ser humano. O que essas pessoas, na sua ingenuidade, não percebem é que a violência contra animais é a escola que prepara os psicopatas. Não tenho vasto conhecimento sobre estudos da mente de assassinos em série, mas não me surpreenderia se fosse relatado que essas pessoas, na infância e adolescência, cometeram violência contra animais. É porque o sadismo nasce aos poucos, ou como resposta a uma violência sofrida na infância, ou como um desvio da personalidade. Então, não devemos nos surpreender que alguém assim comecem aos poucos, uma barata morta com requintes de crueldade aqui, um gatinho queimado ali; depois, já adolescente ou jovem adulto, costuma comprar um cachorro pitt bull com o objetivo de transformá-lo na arma que não pôde comprar. E assim vai o ciclo da violência até explodir no assassinato de um mendigo. O conceito não muda, apenas o objeto. Quem mata um animal, o mata porque acredita na impunidade, afinal, a sociedade não o porá atrás das grades por matar um gato, um cão ou um galo, mas o porá se matar um pai de família. Quando o gato, o cão e o galo não lhe bastam mais, procura um animal diferente; um animal que, na aparência, se assemelha a um ser humano, mas que para tais pessoas não é gente, não é um cidadão. É apenas um mendigo! É por isso que devemos temer e punir aqueles que maltratam os animais, embora não os devamos punir apenas por medo do que eles poderão nos fazer no futuro, mas pelo que já fizeram no presente e no passado, pois, não importa que animal seja (bípede ou quadrúpede), é de uma vida que estamos falando, algo precioso que merece ser respeitado!

Anna Sewell: "A minha doutrina é esta: se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes."

Arthur Schopenhauer: "O pressuposto de que os animais não têm direitos e a ilusão de que o nosso tratamento para com eles não está sujeito a qualquer moral é com certeza um escandaloso exemplo de Ocidental brutalidade e barbaridade. Compaixão Universal é a única garantia de moralidade."

Brigid Brophy: "Aquele que mata por prazer está a anunciar que, e pode fazê-lo impunemente, o poderia matar a si por prazer também. A sua vida pode não ser importante para ninguém, mas é inestimável para si porque é a única que tem. Exatamente o mesmo é verdade para cada veado, lebre, coelho, raposa, peixe, faisão e borboleta. O ser humano deve desfrutar a sua própria vida e não tirar a dos outros."

São sábias palavras, que não devemos esquecer, pois o futuro da Humanidade não pode ser manchado pela crueldade de grupos insanos!