sábado, 6 de outubro de 2007

Brigando com galos

Brigas de galos e de homens...

Apesar da minha rotina dever, obrigatoriamente, ser dividida em horas de estudo para que eu tenha sucesso nos meus objetivos, tenho encontrado tempo para ler o blog de um colunista d' O globo ( http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson ). É uma leitura descontraída que me ajuda a dissipar um pouco o cansaço provocado pelo excesso de semântica e sintaxe gerativa. Outro dia, no entanto, surgiu um tópico que me fez pensar muito durante a semana acerca da maldade intrínseca ao Homem. Obviamente, não era uma maldade no colunista, que pelo que depreendi até agora, é um homem muito doce, mas no texto que lhe fora enviado e que ele publicou quase como um direito de resposta, pois se referia a uma postagem anterior, publicado em julho. O texto enviado agora, meses depois da discussão a que aludia, defendia a rinha de galos como uma prática cultural do povo brasileiro e que, portanto, deveria ser preservada. A mensagem anterior, pelo que deduzi, apesar de não tê-la lido, pronunciava-se contra tal maldade.Freud dizia que vivemos em busca do princípio do prazer, ou seja, na minha compreensão, inocente ou superficial que seja, vivemos para buscar o prazer, não necessariamente, ou exclusivamente, o sexual, mas de todo prazer que podemos conseguir, como a lembrança da satisfação ao mamar o leite materno. Uma amiga me disse que uma das maiores emoções da sua vida foi ver seu filhinho buscando o seio, como um animalzinho faminto, e mamando até dormir satisfeito. É isso que buscamos, acredito. O prazer que sentimos ao comer algo gostoso. Lembro do suspiro de prazer que dei uma vez, quando saí com um amigo, ao morder o primeiro pedaço de um pastelão de alho poró delicioso, na Livraria da Travessa ou a Letras e expressões (era uma dessas duas, na rua Visconde de Pirajá), em Ipanema. Do arrepio delicioso ao ganhar um beijo na nuca de um namorado por quem eu era muito apaixonada. Da sensação de superação ao assinar a ata da defesa do meu mestrado. Da alegria de pegar o Vittorio pela primeira vez no colo, quando ele era do tamanho de um ratinho. Se nos guiamos pela busca desses pequenos prazeres, como alguém pode se divertir com o sofrimento de dois animais? Como isso pode ser chamado de esporte, tradição cultural, lazer?

Michaelis define esporte como "s. m. Conjunto de exercícios físicos praticados metodicamente, em equipes ou individualmente;(...)";

Tradição como "s. f. 1. Ato de transmitir ou entregar. 2. Transmissão oral de lendas, fatos, doutrinas, costumes, hábitos etc., durante um longo espaço de tempo. 3. Tudo o que se sabe por uma transmissão de geração em geração.(...)";

Cultura (pois cultural é apenas relativo à cultura) como "5. Aplicação do espírito a uma coisa; estudo. 6. Adiantamento, civilização. 7. Apuro, esmero, elegância."e Lazer " s. m. Tempo livre, vagar, ócio.".

Nada disso se refere à violência. Entendo, embora não aceite, que no passado, a violência fosse encarada como uma forma de diversão. Mas, hoje em dia, o que a justifica? Não nos orgulhamos de haver evoluído?Vários homens considerados sábios hoje, foram contra a violência contra os animais:

Leonardo da Vinci: "Tempo virá em que os homens verão o assassinato de animais como eles vêem, hoje, o assassinato de homens"

Abraham Lincoln: "Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais."

Albert Einstein: "Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as hipóteses de sobrevivência da vida na Terra quanto a evolução para uma dieta vegetariana. A ordem de vida vegetariana, pelos seus efeitos físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal maneira que melhorará em muito o destino da humanidade."

Albert Schweitzer: "O erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deve aplicá-la em relação ao Homem." "Quando o Homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará de ensiná-lo a amar os seus semelhantes."

Alice Walker: "Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens."

Todas essas pessoas estão erradas e apenas aquele senhorzinho e seus asseclas certos? Não acredito! O que a violência mostra é que não evoluímos quase nada do século XX para cá, a despeito do enorme salto das Ciências. Algumas pessoas dão, em geral, pouca atenção à violência cometida contra animais. Não estou dizendo que não se choquem diante do que acontece, mas não consideram crimes contra animais como algo tão importante quanto um crime acontecido a um ser humano. O que essas pessoas, na sua ingenuidade, não percebem é que a violência contra animais é a escola que prepara os psicopatas. Não tenho vasto conhecimento sobre estudos da mente de assassinos em série, mas não me surpreenderia se fosse relatado que essas pessoas, na infância e adolescência, cometeram violência contra animais. É porque o sadismo nasce aos poucos, ou como resposta a uma violência sofrida na infância, ou como um desvio da personalidade. Então, não devemos nos surpreender que alguém assim comecem aos poucos, uma barata morta com requintes de crueldade aqui, um gatinho queimado ali; depois, já adolescente ou jovem adulto, costuma comprar um cachorro pitt bull com o objetivo de transformá-lo na arma que não pôde comprar. E assim vai o ciclo da violência até explodir no assassinato de um mendigo. O conceito não muda, apenas o objeto. Quem mata um animal, o mata porque acredita na impunidade, afinal, a sociedade não o porá atrás das grades por matar um gato, um cão ou um galo, mas o porá se matar um pai de família. Quando o gato, o cão e o galo não lhe bastam mais, procura um animal diferente; um animal que, na aparência, se assemelha a um ser humano, mas que para tais pessoas não é gente, não é um cidadão. É apenas um mendigo! É por isso que devemos temer e punir aqueles que maltratam os animais, embora não os devamos punir apenas por medo do que eles poderão nos fazer no futuro, mas pelo que já fizeram no presente e no passado, pois, não importa que animal seja (bípede ou quadrúpede), é de uma vida que estamos falando, algo precioso que merece ser respeitado!

Anna Sewell: "A minha doutrina é esta: se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes."

Arthur Schopenhauer: "O pressuposto de que os animais não têm direitos e a ilusão de que o nosso tratamento para com eles não está sujeito a qualquer moral é com certeza um escandaloso exemplo de Ocidental brutalidade e barbaridade. Compaixão Universal é a única garantia de moralidade."

Brigid Brophy: "Aquele que mata por prazer está a anunciar que, e pode fazê-lo impunemente, o poderia matar a si por prazer também. A sua vida pode não ser importante para ninguém, mas é inestimável para si porque é a única que tem. Exatamente o mesmo é verdade para cada veado, lebre, coelho, raposa, peixe, faisão e borboleta. O ser humano deve desfrutar a sua própria vida e não tirar a dos outros."

São sábias palavras, que não devemos esquecer, pois o futuro da Humanidade não pode ser manchado pela crueldade de grupos insanos!

Um comentário:

Unknown disse...

Hei de concordar com vc, apesar de, por vezes, sentir em mim uma vontade louca de matar... algumas pessoas, digo. Principalmente, aquelas que não têm respeito por animais. Contraditório, não?